quarta-feira, 11 de junho de 2008

Críticas

Quando Hamlet observou a Horácio, que havia mais coisas entre o céu e a terra do que supunha a sua vã filosofia, ele alertava para a necessidade de observar e conhecer melhor o mundo à sua volta. A paráfrase entre Machado de Assis e Shakespeare precisa ser traduzida, hoje quem chama a nossa atenção é o HENDY – Grupo de Experimento e Pesquisa em Teatro. O baralho da cartomante nos ajuda. Cada carta uma peça, cada peça uma interpretação, e em cada interpretação uma surpresa. O termo pesquisa nos remete à investigação e estudo, minuciosos e sistemáticos com o fim de descobrir fatos relativos a um campo do conhecimento. O teatro, neste caso, muito bem explorado! A experiência, célula mater do experimento é a habilidade ou perícia resultante do exercício contínuo duma profissão, arte ou ofício. E atrelados, pesquisa e experimento revelam os atores tenros do Hendy.Em A Cartomante, de Machado de Assis, a imaginação da platéia foi incitada a divagar pelo triângulo amoroso entre Vilela, Camilo e Rita. No Apólogo brasileiro sem véu de alegoria, de Alcântara Machado, o teatro dentro do teatro abstraía a noção do real, que refletiu diretamente na concepção cênica do espetáculo. A nova Califórnia foi anunciada de modo particular. A meia luz exigia do público acuidade óptica e atenção, até o escritor, Lima Barreto teria se prendido. O homem que sabia Javanês inverteu os papéis e, num instante, no palco, havia espaço pra atores e espectadores. Brincando com a cenografia a Maria Borralheira de Sílvio Romero, na interpretação do grupo, fez da vaca uma brincadeira mais do que interessante. Em todos os trabalhos encenados pelo grupo, as realidades propostas, a narrativa e a representação sempre estiveram acompanhadas de uma preocupação estética interessante. Singularizando o estar no palco e trazendo a realidade histórica como um semióforo, no sentido de que eles trabalham com o real num valor que não é medido, por ter mais simbólico do que material.
Caí o Rei de Paus fechando, assim, o baralho da cartomante!
Por: Mercolis Alexandre Ernandes
Historiador

Hendÿ - Grupo de Experimento e Pesquisa em Teatro

Hendÿ, na língua materna da comunidade Guarani, desvela diferentes significados. Na tentativa de tradução do vocábulo para o português a palavra pode denotar a luz; o claro; ação ou efeito de iluminar, brilhar, acender e irradiar; entre outras palavras.
Buscando trabalhar da mesma forma, o grupo, utiliza o termo como alcunha para o seu elenco de artistas teatrais ligados a diferentes áreas do conhecimento. O Hendÿ é formado por Aristeo Junior, Débora Matiuzzi, Fabricio Moser, Kleber Félix, Mallu Silva, Taianne França, Tiago Dantas e Vanessa Ribeiro.
Agregando tais valores, o Hendÿ - Grupo de Experimento e Pesquisa em Teatro - desenvolve a partir do jogo, esse dialético, os princípios de seu trabalho. De forma concêntrica, centralizando-se na pesquisa e experimento sobre a linguagem teatral, e de forma excêntrica, irradia novas propostas de comunicação com o espectador.
O grupo começa a construir suas bases no ano de 2006 através de um trabalho comum, que levou alguns dos atuais integrantes a conhecerem-se e em conjunto desenvolverem intervenções em eventos. Dessas ações, junto a outros grupos de teatro da cidade, projetou as artes circenses no município.
No ano de 2007 e 2008, manteve esta mesma veia de atuação através do Projeto Pega Leve, da Medianeira Transportes. Baseando sua intervenção na criação de personagens e do jogo, proporcionado pela rua. O projeto realizou mais de 25 performances em escolas, ônibus e no transbordo da cidade de Dourados.
Em outra abordagem sobre o fazer teatral, em espaços alternativos de quatro cidades do sul do estado, junto ao Projeto Letras de Luz, teve seu trabalho fundamentado na pesquisa e experimentação sobre a figura do narrador de contos literários brasileiros, construindo Ensaio Geral: A Cartomante, de Machado de Assis; Apólogo brasileiro sem véu de alegoria, de Alcântara Machado; Maria Boralheira, de Silvio Romero, A Nova Califórnia e O Homem que sabia Javanês, ambos de Lima Barreto. Realizando um total de 21 apresentações junto a este projeto, apoiado pela Fundação Victor Civita e, em parceria com as Secretarias de Educação e Cultura dos Municípios de Dourados, Fátima do Sul, Glória de Dourados e Ponta Porã, atingindo um público superior a seis mil espectadores. O projeto atuou objetivando estimular à leitura e democratizar o acesso à cultura, por meio da difusão gratuita de espetáculos teatrais adaptados para espaços alternativos. Em um terceiro momento, junto a Empresa de Correios e Telégrafos, na ação cultural Carteiro Amigo, na Escola Presidente Vargas, apresentou a encenação do conto O Homem que sabia Javanês, de Lima Barreto.
No início de 2008, o grupo, realizou duas ações com foco nos jogos teatrais, intervindo em eventos educacionais. Desta mesma proposta de trabalho desenvolveu a criação de Loucal – O Canal, autoria coletiva baseada na improvisação. O processo investiu na arte do ator como criador do texto teatral e utilizou como temática a programação dos meios de comunicação em massa, disso, levou a cena à programação de um canal televisivo. De forma satírica procurou criticar esta realidade.
Sua segunda montagem neste ano de 2008 foi o musical infantil Os Saltimbancos. Inspirado no conto dos Irmãos Grinn, a encenação, despertou nas crianças o imaginário, a criatividade, a sensibilidade, o senso de coletivismo e a percepção da diferença, através da música e de seu enredo.
Posteriormente, A Nova Califórnia, encenação do conto de Lima Barreto, obteve aprovação em importantes editais da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, o Circuito Sul -matogrossense de Teatro, que proporcionou a circulação do espetáculo pelas cidades de Ivinhema, Rio Brilhante, Rio Negro, Laguna Carapã e Nova Alvorada do Sul, e o Cena Som, que levou o mesmo trabalho até a capital, no Teatro Aracy Balabanian. Nova Alvorada do Sul, ainda recebeu Os Saltimbancos, montagem selecionada para a 2ª Mostra de Teatro de Nova Alvorada do Sul.
Subsequentemente, o grupo obteve o fomento do FIP – Fundo de Incentivo a Produção Artística e Cultural de Dourados, para a realização da mostra Cena Alternativa: teatro a toda hora e em qualquer lugar. O fomento proporcionou a montagem de duas novas transposições de contos literários para o palco: A Cabeleireira, da portuguesa Inês Pedrosa, e João: Universitário, do sul-matogrossense Silvio Emerson. Junto às duas montagens, três outros trabalhos do grupo puderam ser apresentados à comunidade douradense de forma gratuita, em espaços alternativos da cidade, a qualquer hora do dia do douradense. O grupo finalizou sua atividade, no ano de 2008, com a participação da montagem Maria Borralheira, no I Festival Internacional de Teatro de Dourados, promovido pela UFGD.
Além dos eventos supracitados, o Hendÿ realizou uma cerca de dez apresentações no Teatro Municipal de Dourados com o apoio da FUNCED – Fundação Cultural e de Esportes de Dourados, seja no Dia do Teatro, ou em outros eventos culturais, movimentando a cena teatral e formando novas platéias. Junto às montagens do grupo, se apresenta também Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, solo de interpretação com criação e atuação de Fabrício Moser, em 2005.